domingo, 16 de outubro de 2011

Luta com olhar de criança


Aprendi muito com as crianças em tantos anos como professora e também como mãe e avó. Nessa Semana da Criança tive mais uma boa surpresa proporcionada pelos pequenos. Recebi na Câmara as crianças sem terrinha.

Em um mundo marcado pelo consumismo desenfreado, onde a noção de coletividade é cada vez mais rara, encontrar um grupo de crianças no caminho oposto é muito gratificante.

Esses meninos e meninas já têm a identidade da classe trabalhadora, para elas a Semana da Criança é muito mais que apenas época de brincadeiras e de ganhar presentes. Nessa altura do ano acontecem As Jornadas dos Sem Terrinha.

As jornadas são realizadas desde 1996 e fazem parte do calendário de lutas do MST e são importantes para mostrar a toda sociedade a realidade das crianças acampadas e assentadas em todo país. Na terça-feira conheci de perto essa “luta com jeito de criança” dos sem terrinha quando me entregaram um documento com as suas reivindicações.

O foco desse ano é a campanha Fechar Escolas é Crime que trata do fechamento de escolas no Campo em todo Brasil. Em Campos dos Goytacazes foram fechadas mais de dez escolas rurais só no ano de 2010. O documento entregue pelas crianças aponta ainda outro problema: menos de 25% das escolas da zona rural em Campos oferecem o segundo segmento do ensino fundamental, ou seja, quem quer continuar os estudos tem que partir para a zona urbana, agravando o êxodo rural e o “inchamento” das periferias da cidade.


No campo as escolas de ensino médio são raríssimas e o transporte escolar não resolve o problema, porque além da distância ser grande dos centros urbanos em períodos de chuva as estradas ficam intransitáveis. A reivindicação é que a educação no campo atenda a todos os segmentos de ensino, lembrando que na zona rural o analfabetismo é quase o triplo do encontrado na zona urbana que é de cerca de dez por cento.

A pauta é extensa, mas vale destacar a necessidade do cumprimento da lei 11.914 que determina que pelo menos trinta por cento dos recursos repassados pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação)devem ser utilizados na compra de alimentos da agricultura familiar para a merenda escolar. Na semana em que comemoramos o Dia da Criança e o Dia do Professor as questões relativas à educação são mais que pertinentes.

Artigo publicado sexta-feira, 14 de outubro no jornal Folha da Manhã.

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