Não é um alerta de perigo, mas sim uma palavra que me chamou a atenção nos últimos dias. Ouvi um depoimento do teólogo Leonardo Boff em que ele falava que um país não deve somente ser gerido, mas ser cuidado.
A lógica ou ainda a ética de um país bem cuidado passa pela obrigatoriamente pelo cuidado com os até então excluídos. Não se pode tratar a desigualdade como se não existisse.
A fome foi tratada em nosso país como um problema “sem solução” e que, portanto, precisava apenas sem gerido de forma que não incomodasse tanto. Desde 2003, inicialmente com o Fome Zero e depois com a integração dos programas sociais, que o governo federal atacou o problema de frente e ainda estamos longe do que é humanamente desejável.
Não podemos considerar natural pessoas batendo à porta pedindo comida como era tão comum há alguns anos. Não é natural que há uns sejam dados todos os direitos e a outros pouco ou nada.
Se formos pensar o país apenas para ser gerido e não cuidado, entramos apenas na lógica do capital, o de gerar lucro ou na pior das hipóteses não dar prejuízo. Quando pensamos numa gestão em que leve em conta a ética do cuidado, pensamos no quanto o que é “bem cuidado” traz benefícios duradouros e no fim das contas até custa (sob a lógica do capital) custa menos monetariamente e o mais importante: o que é socialmente justo traz benefícios a todos, aos até então excluídos, aos que já tinham direitos garantidos e ao lugar em que vivemos como um todo.
Nós somos seres naturalmente sociais, e assim sendo temos uma dependência um dos outros, não se pode considerar viver bem quando muitos não vivem bem, estão à margem. Termino essa reflexão com a afirmação do mesmo Boff: “O cuidado é uma relação amorosa para com a realidade; anula as desconfianças e confere sossego e paz a quem o recebe. Onde há cuidado, não há violência. E tudo o que amamos, também cuidamos.”
Artigo Publicado no Jornal Folha da Manhã em 22 de outubro de 2010
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